20131203

COISAS ...



“Kira é um pintor como os outros, que vai fazendo o que sabe, sempre aprendendo”. É desta forma que António Gama, de 68 anos e mais conhecido como Kira se autodescreve. Desde miúdo que desenhava nos cadernos da escola, mas os seus primeiros passos de pintor começaram no atelier-galeria A Trave. Foi lá que os mestres José Belém e Paulino Ramos lhe transmitiram os seus conhecimentos, numa turma com cerca de 20 alunos, onde só Kira e outro colega seguiram a vida de pintor. Também foi lá que fez a sua primeira exposição, com apenas 15 anos de idade. Até ao serviço militar, fez trabalhos para jornais juvenis, com cartoons e bandas desenhadas, chegando a ser premiado em alguns dos seus desenhos.

Foi aos 20 anos, durante o tédio do serviço militar que nasceu o seu pseudónimo. “Não tinha nada para fazer na tropa, então decidi escrever uma carta para ninguém. Era uma espécie de carta de amor e escrevi no envelope para o carteiro entregar à primeira rapariga que visse na Rua D. Dinis em Castelo Branco. Curiosamente recebi uma resposta a essa carta. Chamava-se Felicidade, ainda estivemos juntos algumas vezes, mas não tantas vezes como queríamos porque ela tinha namorado. Ela em vez de dizer queria, dizia kira. Se eu a convidasse para ir ao cinema ela dizia, eu kira ir mas não posso. Mais tarde comecei a fazer uns cartoons e assinava como Kira, assim ficou”.

Antes do 25 de Abril, quando colaborava com os jornais Diário de Lisboa e República, vários dos seus trabalhos foram alvo do marcador azul da censura. “Era chato porque às vezes tinha de fazer outros. Mas outras vezes lá deixavam passar algumas coisas. Nós brincávamos e tentávamos adivinhar se os trabalhos passavam ou não”. Para além de algumas multas, nunca teve problemas de maior. Os seus trabalhos censurados estiveram expostos na Galeria de São Mamede em Lisboa, na exposição “Maias para o 25 de Abril” e ainda hoje conserva um dos originais, riscado e carimbado.

Em 1981, diz-se criador do “Deglutinismo” na 1ª exposição de quadros comestíveis a que deu o nome “Kira Expõe para Comer”. Tudo começou, quando com exposições marcadas vendeu todos os seus quadros. Ficou sem trabalhos e com uma exposição que não conseguiu adiar. “Foi numa situação de aperto mas foi um sucesso. Fazia a base de massa folhada e dispunha os alimentos sobre a base. Ficavam presas na parede como quadros e as pessoas podiam comê-los. Desapareceu tudo em duas horas, com 800 pessoas na galeria e mais mil lá fora. Nunca ninguém tinha pensado em fazer isso e a galeria foi falada em todo o mundo”. Após o sucesso dessa exposição, a convite, ainda fez mais duas iguais.

Os seus quadros já percorreram os quatro cantos do Mundo, em exposições, museus ou colecções particulares. Com um estilo muito próprio e cheios de simbolismo, diz que são o espelho de si mesmo e das suas vivências. “A tela a branco é desafiante. É como ir para um campo de futebol sozinho, nunca sei se ganho ou não. Do zero total da tela, obriga-me a pensar que só vou ser um artista quando chegar a uma tela branca e dar tudo por completo..."
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